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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A dor e o raio que a parta.

Todos a saboreamos mais dia menos dia. A escala da dor é pessoal e intransmissivel. A mim dói-me o que a outro não. A ele dói-lhe de forma que a mim nunca doeu. Cada um tem a sua capacidade de suportar e conviver com a dor.

Dor de dentes. Dor de cabeça. Dor de barriga. Dor de costas. Dor de pernas. Dor de cotovelo. Dor de de parto. Dor de amor. Dor de perder uma mãe. Dor de perder um filho.

Dor. Dor. Dor. Dor. Dor. Dor. Dor. Dor. Dor. Dor. Dor. Dor. Dor. Dor. Dor. Dor.

Quando dizemos muitas vezes esta palavra ela parece que deixa de fazer sentido. Parece que se lhe perde o significado. Passa a ficar estranha. Quase que fica vazia. Quase. Porque depois dói. E volta a ter peso. Volta a ser e volta a acontecer dor.

Dissertar sobre os sentimentos ajuda a percebe-los e a interiorizá-los. (Se bem que num dia simplista eu diria apenas que os sentimentos se sentem e ponto.)

E a dor? A dor dói e ponto também. Cada uma à sua maneira. Cada uma se apodera da sua pessoa e usa-a da forma que a deixarem. Sacana. Necessária.

Há dores que vão à boleia na nossa vida por tempo indeterminado. É dificil (impossivel) dar-lhes ordem de despejo.

Alguém que me explique como se vive depois da perda de um filho.

Não quero explicações do senso comum. Não quero que me digam que a amiga da amiga passou pela dor e sobreviveu. Não quero que me digam que tudo passa. Isso já sei. Quero a verdade. Somente a verdade.

Não quero sentir. Não quero dor. Quero uma explicação só.

Este tema vomita todos os dias do meu pensamento e todos os dias tento fugir dele. Hoje não consegui mais.

(Para a Maria, que partiu e para os seus pais e irmão que ficaram com a dor de a ver partir.)

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