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sexta-feira, 19 de abril de 2013

Para ti Rodrigo!

Há assuntos que me bloqueiam. Crianças que sofrem, doentes em camas de hospital é um deles. 

No facebook somos bombardeados com imagens dessas e pedidos de likes que depois supostamente se transformam em euros para ajudar. Confesso aqui que não acredito em quase nenhuma delas. As imagens até podem ser verdadeiras mas as intenções que estão por trás, não sei. 

Sigo a página da Associação Portuguesa Contra a Leucemia e do Movimento Vida - Vamos ajudar o Gustavo porque me apresentam casos que me parecem verdadeiramente reais (tomara eu que não fossem) e apresentam dados e histórias credíveis associados à imagens. 

Admito aqui desde o caso concreto do Gustavo que nunca mais consegui fazer like em nenhuma página dessas. Não consigo estar constantemente a receber notificações com fotos de miúdos e miúdas  graúdos e graúdas a agonizar numa dor que parece não ter fim. 

Sigo as histórias, porque elas me vão aparecendo à frente diariamente, mas prefiro ir de vez em quando espreitando as páginas para ver desenvolvimentos. Vou quando me apetece sem estar "presa" às notificações. Ajudo sempre que posso e divulgo quando me parecem verdadeiras.

Dadora já sou há muito tempo. Nos primeiros tempos depois da colheita de sangue, sonhei durante várias noites que um dia o telefone tocava e me diziam do outro lado que estavam à minha espera com urgência porque tinha uma vida para salvar. (Sempre este meu desejo secreto de querer salvar vidas.) Entretanto os sonhos foram-se esbatendo e acho que desapareceram.

Quando fui mãe pela primeira vez os sonhos voltaram mas com outra lógica. Quem precisava de ajuda era agora o meu filho. Muitas vezes o vi doente, em sonhos, a precisar de todas as pessoas que o pudessem ajudar. Estávamos em 2008 e nessa altura nem sabia o que era o facebook. Ainda bem, pois acho que seria pior.

As coisas aos poucos voltaram a normalizar e a angustia começou a desaparecer.

Quando fui mãe pela segunda vez, em Abril de 2011, voltou tudo outra vez. Está visto que comigo, pelo menos, depois de ser mãe, se apodera um medo irracional, que só não me controla porque ainda me vai valendo o meu auto-controlo emocional e me faz não descarrilar totalmente.

O problema desta vez é que ainda não foram embora. 

E depois existem os Rodrigos. Onde inevitavelmente eu vejo caras de gente minha, de gente conhecida. Tormento a dobrar, é o que é.

Eu tinha quase 9 anos e perdi um irmão vitima de cancro. (O meu herói.)

Eu tinha 28 anos e de casamento marcado e perdi o meu pai 3 meses antes desse dia, também vitima de cancro. 

Entretanto já tive pessoas amigas que vão passando pela minha vida e que também elas foram ou estão a ser massacradas pela doença maldita. Aperta-me o coração, como se fossem do meu sangue.

Em Maio faz um ano que perdi uma colega de trabalho também vítima desta injustiça. Foi-se uma mãe linda e maravilhosa que deixou duas crianças neste mundo, uma delas com menos de um ano de idade. Nem quero voltar a lembrar a angustia desses dias.

Agora chegou-me ao coração O RODRIGO, mais um miúdo como os meus, que não merecia a sorte que lhe calhou. Tal como não merece nenhuma criança. Nem ninguém. 

Podia ser um dos meus filhos. Podia ser um dos vossos filhos.

Como é que uma mãe, como a dele, recebe a noticia de uma equipa médica que lhe diz que cá, no seu país, já nada mais pode ser feito para além de cuidados paliativos. Não dá para aceitar. Não é a ordem natural das coisas.

Mesmo aqueles que não acreditam na recuperação do pequeno Rodrigo, que me digam como se matam as esperanças desta mãe????? 
Há uma possibilidade remota do Rodrigo viajar para outro país experimentar outro tratamento??? Então como se pode dizer a esta mãe que não há dinheiro para ele ir?????

Não pode. Ele tem que ir. O problema é o tempo. Corre muito depressa de mão dada com uma doença que não quer ficar para trás e parece correr mais depressa ainda. Not fare.

Mas há mais Rodrigos, e Gustavos, e Afonsos e Marias para ajudar. Ser dador é uma coisa tão simples que me confunde a inteligência. Como é possível tanta gente que vive rodeada de informação, ainda não ter dado este passo. Este simples passo.

Sejam dadores de Medula e salvem vidas. Sejam solidários com o Rodrigo e ajudem-no a viver. Quem somos nós para não permitir que se esgotem todas as possibilidades?

Espero nunca precisar de pedir para os meus filhos. Espero que nunca precisem de pedir para os vossos.

 E o Rodrigo está aqui. É real. Está vivo. Conta com cada um de nós. 

Vais agir ou vais ficar só a ver?







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